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Princesa de cristal

Diário de uma sonhadora

19
Jul19

...

Ai o preconceito...esse filho da mãe!
E quando se usa cadeira de rodas, quer queiramos quer não ele está presente em algumas situações. Já não é tanto como antigamente, mas ainda nos deparamos com perguntas sem qualquer tipo de sentido e que nos deixam tantas vezes constrangidos sem saber bem se a pessoa que pergunta, está a gozar connosco ou se realmente não tem noção do ridículo da situação.

 

E como já passei por algumas situações engraçadas (outras nem tanto), acho que se as coisas forem abordadas de uma forma descontraída fica tudo bem mais fácil. Por isso, decidi compilar algumas das perguntas mais comuns (pode ser que esclareça alguém).

 

Lembrando claro, que é a minha opinião baseada apenas na minha deficiência. Obviamente cada pessoa é diferente, com necessidades especificas e com opiniões pessoais, provavelmente diferentes da minha.

Incomoda-me quando as pessoas me perguntam se eu preciso de ajuda?

Não, de todo! Incomoda-me sim, quando eu digo “não obrigado” e a pessoa insiste em ajudar, como se eu não tivesse percebido a pergunta ou tivesse vergonha em aceitar a ajuda. Se eu precisar de ajuda, peço...simples! Agora insistir em ajudar, não só nos vai deixar constrangidos como (a mim em particular) me deixa irritada.
Mas depende das situações, como é óbvio! Por exemplo, se vou a entrar num sitio qualquer e alguém se antecipa a abrir-me a porta, isso para mim é a chamada "boa educação"! Basta ter bom senso...simples. 

 

Fico constrangida quando olham fixamente para mim?

Imenso. Sinto-me super desconfortável e irritada mesmo. E existem várias formas de olhar... aquele olhar de “ó coitadinha”, “eu conheço-a de algum lado...” ou “olha bem bonita...” e meus amigos, nós conseguimos identificar sempre cada tipo de olhar é que nem vale a pena disfarçar!

Não somos seres estranhos...ok andamos sentados mas isso não faz de nós diferentes e esse tipo de olhar, quando é depreciativo faz-nos sentir desconfortáveis e por vezes até magoados.
Claro que existe o reverso da moeda (felizmente!)... quando recebemos aquele elogio vindo de um estranho e que nos fez sorrir o resto do dia! 
Uma vez em Madrid, fiquei para trás do resto do grupo a olhar o mapa e passam por mim 3 jovens e um deles comenta com os outros 2 "Que guapa!" ao mesmo tempo que se viram para trás para olhar para mim.... e escusado será dizer que a minha autoestima nesse dia...upa upa...


As pessoas deviam ignorar o fato de eu andar em cadeira de rodas?

Não, de forma alguma, só não quero que se foquem nela. O fato de eu andar sentada, não faz de mim uma pessoa diferente.


Incomoda-me quando as pessoas perguntam porque é que ando em cadeira de rodas?

Se eu não conheço a pessoa de lado nenhum e se for essa a sua primeira pergunta...acho ridículo e sim incomoda-me! Não faz sentido perguntar algo pessoal a alguém sem nenhum tipo de contexto...sem haver alguma “confiança”.

Já me aconteceu algumas vezes, eu estar a entrar no carro e dirigirem-se a mim com comentários do estilo “foi algum acidente?”  ou “Ah tão bonitinha e já de cadeira de rodas é uma tristeza”... 
A verdade é que nem sempre estamos de bom humor e muitas vezes respondemos de forma ríspida... e depois vem o arrependimento “dam it...era escusado ser tão mázinha” 

Como é que eu me sinto quando me dizem que sou uma “inspiração”? 

Acontece-me imensas vezes e acreditem, chega a ser irritante!

Mas sou inspiração porquê?! É que se é porque me levanto da cama todos os dias e vou trabalhar e não passo o dia a lamentar-me com a minha “desgraça”... poupem-me a sério!!!

Agora se sou uma inspiração, porque me vêm como uma pessoa focada nos seus objetivos e que encara as dificuldades com otimismo, ou porque gostaram do meu trabalho ou de algo que fiz...então sim, fico muito feliz em ser uma inspiração para alguém.

Andar de cadeira de rodas não implica ser diferente, não implica deixar de sonhar e de seguir esses sonhos. Implica sim, fazer pequenos ajustes para os conseguir realizar.

Mas desistir nunca é opção! 

16
Out18

Quando a vida nos troca as voltas...

Hoje é um daqueles dias em que só me apetece chorar... sinto-me completamente frustrada! Parece que quando nos começamos a recompor... o universo vem e passa-nos uma rasteira novamente!

 

Já tinha falado aqui de um tratamento que tinha saído para o meu problema de saude. Hoje quando fui à consulta de neurologia, o médico diz-me que o exame genético que ele lá tem (feito de 2004), deu negativo à minha doença. Ou seja, 30 e tal anos depois, soube hoje que afinal eu não tenho o que pensava que tinha! Logo, a hipotese de um tratamento que poderia mudar e muito a minha qualidade de vida, não se vai realizar!

 

Conclusão, ele mandou-me repetir o exame genético, e se continuar a dar negativo para a minha suposta doença, iremos recomeçar da estaca zero! Voltei a tirar sangue e só na próxima consulta em março do próximo ano é que saberei algo. 

 

Eu fiquei gelada! Só não me deu ali um ataque de choro porque enfim...! E enquanto me dirigia para o laboratório, questionava a incompetência da minha outra médica! Como é que o exame genético de 2004, aparece negativo e ninguém me diz nada!?!?! Mas está tudo maluco?

Então se desde sempre o meu problema foi A (diagnosticado por eles) e o exame genético veio dizer que afinal não... o deve dela seria o de me informar e tentar chegar a uma conclusão! 

 

Confesso que hoje estou sem reação para nada! Só me apetece fechar-me no quarto e chorar! Caramba... depois de uma vida inteira a dizerem-me que o meu problema não tinha cura e de repente aparece uma luz/uma esperança e no espaço de uma hora... vira tudo uma fantasia!

 

12
Out18

Fico irritada...

Hoje mandaram-me um link no facebook de uma consultora que quer integrar no mercado de trabalho os profissionais qualificados com deficiência. Porque é que nós deficientes temos que ter sempre "processos especiais" de recrutamento??!? O trabalho deve ser um direito de TODOS os cidadãos e não uma questão de responsabilidade social!

Quando terminei a minha licenciatura tive obrigatoriamente de fazer um estágio e foi um drama escolher uma empresa por causa das acessibilidades!!! Acabou por se resolver mas depois que me formei o drama foi ainda pior. Enviei imensos cv's...muitas empresas nem se dignavam a responder e as que respondiam, lamentavam imenso mas não tinham acessibilidades. 

 

Então decidi fazer a experiência, enviar o cv sem mencionar a cadeira de rodas! Era quase sempre selecionada e quando me ligavam para marcar a entrevista eu perguntava se tinham acessos (como se fosse apenas um pequeno pormenor) respondiam-me tipo "humm uhhh...pois...sabe ainda não estamos preparados para receber pessoas com limitações fisicas..." e lá se ia a oportunidade por água abaixo!

 

Esta empresa onde estou, foi através de uma amiga, ela trabalhava lá e sabia que estavam a meter pessoal...mandei o cv e até hoje!

Se estou bem onde estou? Talvez. Tenho momentos em que me sinto imensamente descriminada!

Por exemplo, a empresa todos os anos oferece viagens internacionais (tudo pago, em hoteis 5 estrelas) a 20 colaboradores, escolhidos entre eles...e eu nunca fui convidada! Uma colega vira-se para mim "Ah mas se calhar é porque sabem que como andas de cadeira de rodas não podes ir..."

OI??? desde quando é que uma pessoa em cadeira de rodas é impedida de viajar? A opção de ir ou não deveria sempre partir de mim! Até digo mais...se fosse uma empresa com a "consciência social" que eles tanto gostam de apregoar, fariam me o convite e a decisão de ir ou não, deveria ser apenas minha!

E são essas injustiças que me deixam revoltada...tantos anos numa empresa que cresceu comigo e que me deixa de lado só porque....ando sentada! 

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