Ai o preconceito...esse filho da mãe!
E quando se usa cadeira de rodas, quer queiramos quer não ele está presente em algumas situações. Já não é tanto como antigamente, mas ainda nos deparamos com perguntas sem qualquer tipo de sentido e que nos deixam tantas vezes constrangidos sem saber bem se a pessoa que pergunta, está a gozar connosco ou se realmente não tem noção do ridículo da situação.
E como já passei por algumas situações engraçadas (outras nem tanto), acho que se as coisas forem abordadas de uma forma descontraída fica tudo bem mais fácil. Por isso, decidi compilar algumas das perguntas mais comuns (pode ser que esclareça alguém).
Lembrando claro, que é a minha opinião baseada apenas na minha deficiência. Obviamente cada pessoa é diferente, com necessidades especificas e com opiniões pessoais, provavelmente diferentes da minha.
Incomoda-me quando as pessoas me perguntam se eu preciso de ajuda?
Não, de todo! Incomoda-me sim, quando eu digo “não obrigado” e a pessoa insiste em ajudar, como se eu não tivesse percebido a pergunta ou tivesse vergonha em aceitar a ajuda. Se eu precisar de ajuda, peço...simples! Agora insistir em ajudar, não só nos vai deixar constrangidos como (a mim em particular) me deixa irritada.
Mas depende das situações, como é óbvio! Por exemplo, se vou a entrar num sitio qualquer e alguém se antecipa a abrir-me a porta, isso para mim é a chamada "boa educação"! Basta ter bom senso...simples.
Fico constrangida quando olham fixamente para mim?
Imenso. Sinto-me super desconfortável e irritada mesmo. E existem várias formas de olhar... aquele olhar de “ó coitadinha”, “eu conheço-a de algum lado...” ou “olha bem bonita...” e meus amigos, nós conseguimos identificar sempre cada tipo de olhar é que nem vale a pena disfarçar!
Não somos seres estranhos...ok andamos sentados mas isso não faz de nós diferentes e esse tipo de olhar, quando é depreciativo faz-nos sentir desconfortáveis e por vezes até magoados.
Claro que existe o reverso da moeda (felizmente!)... quando recebemos aquele elogio vindo de um estranho e que nos fez sorrir o resto do dia!
Uma vez em Madrid, fiquei para trás do resto do grupo a olhar o mapa e passam por mim 3 jovens e um deles comenta com os outros 2 "Que guapa!" ao mesmo tempo que se viram para trás para olhar para mim.... e escusado será dizer que a minha autoestima nesse dia...upa upa...
As pessoas deviam ignorar o fato de eu andar em cadeira de rodas?
Não, de forma alguma, só não quero que se foquem nela. O fato de eu andar sentada, não faz de mim uma pessoa diferente.
Incomoda-me quando as pessoas perguntam porque é que ando em cadeira de rodas?
Se eu não conheço a pessoa de lado nenhum e se for essa a sua primeira pergunta...acho ridículo e sim incomoda-me! Não faz sentido perguntar algo pessoal a alguém sem nenhum tipo de contexto...sem haver alguma “confiança”.
Já me aconteceu algumas vezes, eu estar a entrar no carro e dirigirem-se a mim com comentários do estilo “foi algum acidente?” ou “Ah tão bonitinha e já de cadeira de rodas é uma tristeza”...
A verdade é que nem sempre estamos de bom humor e muitas vezes respondemos de forma ríspida... e depois vem o arrependimento “dam it...era escusado ser tão mázinha” .
Como é que eu me sinto quando me dizem que sou uma “inspiração”?
Acontece-me imensas vezes e acreditem, chega a ser irritante!
Mas sou inspiração porquê?! É que se é porque me levanto da cama todos os dias e vou trabalhar e não passo o dia a lamentar-me com a minha “desgraça”... poupem-me a sério!!!
Agora se sou uma inspiração, porque me vêm como uma pessoa focada nos seus objetivos e que encara as dificuldades com otimismo, ou porque gostaram do meu trabalho ou de algo que fiz...então sim, fico muito feliz em ser uma inspiração para alguém.
Andar de cadeira de rodas não implica ser diferente, não implica deixar de sonhar e de seguir esses sonhos. Implica sim, fazer pequenos ajustes para os conseguir realizar.
Mas desistir nunca é opção!