Regresso ao Blog Após Tanto Tempo...
Maio marcou um ano desde o falecimento da minha mãe. Desde então, senti-me sem chão, incapaz de fazer planos ou projetos. Perdi a minha mãe, a minha melhor amiga, a minha psicóloga...
Os últimos meses antes dela falecer foram extremamente difíceis. Em agosto de 2022, após uma cirurgia, acreditávamos que estava "limpa". Contudo, em novembro, o maldito cancro voltou de forma galopante. As dores eram insuportáveis e o sangramento assustador.
Chegámos ao limite, e a única solução paliativa era começar a quimioterapia. Iniciou-se com radioterapia para aliviar a dor, o que funcionou, e seguiu-se a quimioterapia.
No terceiro dia de quimioterapia, começaram os problemas renais, pés inchados e diarreia constante.
Ela mal conseguia comer. Preparava-lhe frutas e sopas nutritivas e cremosas. Na segunda-feira, disse-me: “Amanhã filha, vou mudar a minha rotina. Vou começar a alimentar-me melhor, a fazer exercício...”. Mas na quarta-feira, a diarreia não parava e foi internada no hospital de Aveiro, já muito fraca.
Na sexta-feira, a médica disse-me para avisar a família. Estava em choque, recusando-me a aceitar a realidade, ainda acreditando na sua recuperação. Liguei aos meus irmãos no Reino Unido, que conseguiram vir no dia seguinte.
Fiquei sempre ao lado dela, que, embora sonolenta, mantinha-se calma. Estava em isolamento, extremamente debilitada e com as defesas em baixo. No domingo, ao chegar, reparei que não estava ligada a nada. Chamei a médica, que, insensivelmente na sua presença, disse que nada mais havia a fazer que seria transferida para os cuidados paliativos.
Todos me diziam para aceitar, mas eu não conseguia. Acreditei até ao fim na sua recuperação. As minhas últimas palavras para ela foram “Mãezinha, amo-te muito, não te deixes ir, luta até ao fim” e ela, agarrada à minha mão, sorriu e acenou com a cabeça.
Foi transferida nessa noite e, por volta das 21h, a enfermeira ligou-me a perguntar sobre a medicação dela. Pedi-lhe para lhe dizer que a filha mandava um beijinho de boa noite e que a amava muito. Faleceu às 5h da madrugada. Às 8h, ligaram para o meu pai a dar a notícia.
A minha relação com a minha mãe era incrivelmente especial, algo tão único que dificilmente consigo descrever.
Tenho uma fé enorme e sinto muitas bênçãos na minha vida. Apesar das desgraças e dificuldades, vejo o cuidado de Deus comigo.
Não dormia bem há muito tempo, sempre sobressaltada, acordando de madrugada para verificar o telemóvel, caso algo acontecesse. Mesmo quando ela estava em casa, verificava sempre se estava bem. Naquela noite, depois de muito chorar e implorar a Deus pelo milagre que tanto queria, dormi profundamente.
Ligaram ao meu pai para dar a notícia, e ele acordou-me com a notícia e fiquei apática. A minha primeira reação foi: “quero ir vê-la”.
Os meus irmãos convenceram-me a irmos primeiro à agência tratar das formalidades, onde nos aconselharam a manter a imagem dela e não ir vê-la.
Foram dias indescritíveis, com momentos em que chorava sozinha no quarto. O meu pai estava a terminar a radioterapia para o cancro da próstata, e eu acompanhava-o em piloto automático.
O funeral foi na quarta-feira, e a última vez que chorei foi quando o caixão foi fechado. As minhas últimas palavras para ela foram: “Até já mãe.”